segunda-feira, 16 de julho de 2012

PEDAGOGIA DA INDIGNAÇÃO


Os conquistadores europeus pilharam as riquezas naturais do continente americano e escravizaram os povos nativos que aqui residiam; impuseram-lhes novas identidades e cometeram verdadeiros genocídios culturais em nome de uma fé monoteísta. Os saqueadores se refestelaram em solo europeu, receberam títulos nobiliárquicos e depois descobriram o lucrativo negócio do tráfico negreiro, assassinando seres humanos nos porões das embarcações insalubres, submetendo-os a um trabalho cruel para beneficiar a gulodice das monarquias divinas.

Cinco séculos depois o processo colonizatório permanece no estatuto curricular das escolas brasileiras, influenciadas pela importação de teorias educacionais provenientes da França, Espanha e Portugal, além dos Estados Unidos da América. No âmago dos litígios que envolvem as teorias do currículo, almeja-se uma proposição pedagógica pós-colonial, que reconheça a materialidade dos processos históricos e reconduza cada nação para os seus enfrentamentos educativos específicos. A colonização pedagógica esteve presente, por exemplo, durante a ditadura militar (1964-1985), nos famosos acordos entre o MEC e a USAID (United States Agency for International Development), esta última uma agência estadunidense que não só estabeleceu programas de formação docente, como instituiu roteiros programáticos na elaboração de materiais didáticos.

Nenhuma condução pedagógica será suficientemente consequente enquanto não tiver compromisso histórico com o seu passado e com o seu devir. As escolas públicas brasileiras padecem de brio revolucionário, já que se organizam via de regra como espaços da apatia política, onde os seus sujeitos partícipes pouco discutem um projeto educativo, tomados que estão pela intensificação da jornada de trabalho (no caso dos professores) e pela frágil interatividade entre a comunidade escolar e a comunidade local atendida.

Ao clamar-se por uma ‘pedagogia da indignação’ opta-se claramente por uma perspectiva curricular que assinale o conflito e o compromisso como elos permanentes das mudanças nas práticas pedagógicas. O conflito deve ser compreendido aqui não como impossibilidade, mas como a chave mestra do aniquilamento de consensos burocráticos e oficialescos perpetrados pelo Estado Liberal. As contradições intrínsecas pertinentes às escolas representam dados salutares na composição de um desenho curricular que não seja mais refém do genérico e do arrazoado teórico identificados com o eurocentrismo. 





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