sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

QUANDO OS BONS SILENCIAM

O ‘silêncio dos bons’ incomoda muito mais que a algaravia dos/as que espalham o mau gosto, a insensatez e produtos massificados beirando ao grotesco. Refiro-me a vários aspectos, mas notadamente ao bombardeio sistemático e diário das pautas apresentadas por parcela significativa do mundo midiático. Programas de baixo conteúdo educativo; edições protocolares e pragmáticas de telejornais – que se assemelham à ficção –, além da exposição ad nauseam de pseudo-celebridades. A idiotia ganhou estranhos e preocupantes contornos de ‘naturalização social’; tudo se compartilha, principalmente a miséria de uma civilização cada dia mais inculta e bárbara.

Aliás, a infotoxicação tem por objetivo, justamente, submeter a todos a um processo ainda mais devastador de alienação. Os conhecimentos produzidos pela humanidade sequer são socializados e muito menos apreendidos, internalizados. Enfoca-se, sobretudo, o burlesco, o bufônico. Rimos de nossa própria miséria. A compulsão narcísica e a necessidade permanente do espetáculo revelam, em boa medida, o afastamento de temas sociais decisivos que carecem de discussões urgentes, tais como: acesso à saúde e à educação pública com elevada qualidade de atendimento; segurança pública ampla respaldada por organizações comunitárias; combate à corrupção endêmica em todos os setores da vida pública, etc.. O amoldamento social é a certeza da apatia coletiva generalizada, que beneficia as elites econômicas e políticas, protegidas dos ‘abalos sísmicos’ da classe trabalhadora expropriada, esta última muito mais vulnerável, porém revolucionariamente prenhe. 

A intelectualidade militante também está confinada aos espaços assépticos das universidades; porque de alguma maneira estão todos emparedados diante da burocracia sufocante, imerso na produtividade positivista acachapante. O silêncio dos bons preocupa muito mais que a ensurdecedora matraca polifônica da ignorância trivial, célere e inconsequente. Enquanto os ‘bons’ hibernam, decisões estratégicas são tomadas a todo instante. Alimenta-se, assim, toda a ordem de tiranias miúdas e graúdas, que a curto e médio prazo, serão os patronos do autoritarismo e autores da primazia da força sobre a liberdade de expressão.



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