terça-feira, 17 de maio de 2011

A 'blitz' da educação

 

Nos últimos dias a tevê Globo tem veiculado em seu telejornal noturno (Jornal Nacional) matérias referentes à educação pública nacional, relatando os dados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de determinadas escolas, seus dilemas, desafios e histórias de superação. No enredo teledramatúrgico tão próprio deste jornal de variedades eletrônico, ‘especialistas’ em educação são convidados para comentar as experiências educativas nas unidades de ensino com melhor e pior desempenho no IDEB em diferentes regiões do Brasil. Os ‘experts’ educacionais têm, em grande medida, formação em economia e, é a partir desta perspectiva (economia educacional), que taramelam sobre os rumos da educação em nosso país. Toda esta articulação em torno da ‘qualidade da educação nacional’ que envolve o Estado e o empresariado nacional vem desde 1990, quando o Brasil foi signatário da Declaração Mundial ‘Todos pela Educação’, em Jomtien, na Tailândia.

A reestruturação produtiva do capital nas últimas décadas tem exigido uma força de trabalho mais flexível e uma escolarização básica um pouco acima daquela que se demandava nas décadas de 1970 e 1980, quando a “Teoria do Capital Humano” estava em seu auge. Sob o manto da qualidade total, tão comum no jargão empresarial, o capital percebeu que a força de trabalho nacional se ressentia dos poucos anos de estudo ou de uma escolarização precária que, longe de ser desprezada, atendia apenas um determinado segmento de seu setor produtivo. O que não se discute, efetivamente, nas matérias veiculadas pelo Jornal Nacional é a precarização e a intensificação do trabalho docente como um todo, que percebe salários indecentes e em muitos casos as piores condições de trabalho possível. Neste caso, ficam subentendidas as ‘histórias de superação’ através do voluntariado, presença das famílias e a desresponsabilização estatal. O modelo educativo público a ser seguido, conforme um dos ‘experts’, é o mesmo das escolas privadas. Ou seja: se a escola pública vai mal é porque os professores não se esforçam o suficiente, além de conduzirem suas práticas pedagógicas de forma muito ideologizada (e isto é péssimo para o capital).

Logo, se não são discutidas as premissas do modelo econômico vigente (o capitalismo), como exigir da escola pública a solução dos problemas da violência, do desemprego, da miséria, do narcotráfico e do meio ambiente, se a mesma é socialmente determinada pela lógica do capital? Ao tomar a escola como ‘determinante’ e não como ‘determinada’ pela violência estrutural do capital, só é possível concluir que o cinismo é a resposta mais adequada para os problemas educacionais do Brasil. Em outras palavras, exige-se da educação pública o ‘máximo’ com investimento ‘mínimo’, e disto os economistas entendem bem.

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