sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DO QUE É DO HUMANO - PARTE 2

Para entender devo me calar de maneira monástica. Retrucar seria inglório. Observar o gesto, as palavras cortantes que brotam daquela boca como ameaça sistemática. E às vezes nem era isso que ardia profundamente. Apenas o prazer de machucar, lanhar e depois cuspir. Este era o comportamento constante e nada havia de voluptuosidade. E sei que gostava de umas sujeiras; de umas ofensas cabalísticas, que findava no deleite do quartinho, onde se debulhava inteira na excitante orgia.

E na queda da volúpia, quando o jogo terminava, abruptamente desvencilhava-se de meu afago e vestia a roupa flamejante, jurando para si mesma que tudo se tratava de um engano. Pois era assim que gostavas de me  ter, para depois expelir, raivosa, os destroços da noite incompatível.

E gostava dos sons das catedrais, porque era uma redenção transcendente e te deixava mais pura e até mesmo casta. Não suportavas o próprio cheiro e banhava-te demoradamente até que uma suave bruma fantasiosa cobrisse a tua face para que tudo serenasse.

Eu, espectador ativo de tuas loucurinhas, tinha por passatempo reunir os lençóis e travesseiros, organizando o novo cenário da captura amorosa. E fazias pouco caso deste movimento e, ao mesmo tempo, já maquinavas como seria a experiência do outro dia.

E quando fui embora, cobrejavas pela sala, intuindo magnetos insolentes, pois era disso que se alimentava e a espera não tardara.

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