segunda-feira, 5 de maio de 2008

Lazer, Trabalho e Contradição




Por Jéferson Dantas



Deparei-me com uma entrevista realizada por um semanário nacional ao consultor estadunidense da Organização das Nações Unidas (ONU), Christopher Edginton. O consultor em questão é secretário-geral da World Leisure Organization, entidade não-governamental que presta assessoria à ONU em questões relacionadas ao lazer e ao desenvolvimento pessoal. Até aí, nada demais. O que espanta são as respostas insuficientes e reducionistas do consultor no que se refere ao mundo do trabalho, tangido pela lógica do capital.

Para Edginton, que esteve recentemente no Brasil participando do seminário O Lazer em Debate, uma das definições possíveis de ‘lazer’ seria o “tempo livre, no qual não se tem que trabalhar para garantir a sobrevivência”; ou ainda “um estado da mente”, que pode ocorrer a qualquer momento, em qualquer lugar. Ainda que entendamos que o lazer e o bem-estar social deveriam ser as metas permanentes dos governos ditos democráticos, não há como dissociar tais elementos da lógica que estabelece e distribui bens econômicos e simbólicos de forma desigual. Em outras palavras, o ‘tempo livre’ ou o ‘ócio criativo’ defendido pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, só poderiam funcionar numa sociedade efetivamente equânime, quando então toda racionalidade privatista teria se extinguido. Pensar o ‘lazer’ amparado numa suposição praticamente utópica revela o quanto as contradições do capitalismo estão sendo deixadas de lado, já que tal sistema opera decisivamente na exploração da mão-de-obra qualificada e desqualificada, deixando marcas indeléveis no corpo e na psique humanas.

Para aqueles que entendem ser o ‘trabalho’ uma categoria em declínio e que deveríamos estar antenados num mundo do ‘pós-trabalho’, sugeriria, então, que deixassem de trabalhar e vivessem em função do ‘ócio criador’. Ora, as mudanças no mundo do trabalho contemporâneo apenas se metamorfosearam em novas estratégias de exploração, conduzidas principalmente pelas inovações tecnológicas. Num mundo cingido pela opulência, de um lado, e pela miséria, de outro, deveríamos sim discutir as reparações históricas em relação aos povos massacrados e espoliados economicamente; estes últimos, provavelmente, não sabem o que é lazer.




2 comentários:

Anônimo disse...

Chamou-me a atenção o texto A escola, dos meus sonhos, pois preciso escrever sobre o mesmo título para um curso de tutoria em formação de professores na área de Humanas/UFC. Neste curso estabelecemos relação entre Educação, Trabalho e Desenvolvimento. Por isso interessei-me tb pelo seu texto Lazer, Trabalho e Contradição. íbnfelizmente o cerne da discussão ainda está em Marx. Ele é insuperável?
Gostaria de discutir sobre contextualização de conteúdos para a educação básica. Estamos com um projeto em 3 municípios do litoral leste do Ceará - Educação dos Povos do Mar.

Bianca Melyna disse...

E aí, gostou da exposição? Eu fiquei encantada com o quadro do Meirelles... e a champagne também estava boa... :~þ