No apagar
das luzes de 2015 o jornal Folha de S.
Paulo em seu editorial de 27 de dezembro, retomou a discussão sobre os
rumos da educação pública no Brasil, por meio de ‘cinco ideias para debate’.
Ainda que possamos concordar que a versão preliminar da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) apresentem
deficiências estratégicas graves, como o próprio periódico assinalou, a Folha de S. Paulo está mais preocupada
com aspectos relacionados à gestão do fundo público para a Educação Básica e o
Ensino Superior. O editorial chega a mencionar a necessidade de um ‘choque de
gestão’ nas escolas públicas, baseando-se, para tanto, em referências teóricas
de experts do universo privado.
Logo, a Folha de S. Paulo se acalcanha em cinco
objetivos para aprimorar a gestão das escolas públicas e ‘premiar’ por meio de
bônus de desempenho os/as professores/as: 1) enfatizar o gasto com o ensino
básico, e não com o universitário; 2) garantir seis horas efetivas de aula por
dia (hoje são duas); 3) pôr ênfase em português e matemática no currículo
nacional; 4) dar autonomia a mestres e diretores e facilitar a demissão dos
piores; 5) fechar escolas ruins ou entregar a sua gestão a organizações sociais
(OS).
No que
tange à primeira ideia, entendemos que o financiamento da educação pública
precisa se dar em todos os níveis e modalidades de ensino, sem qualquer
distinção. O que está em jogo aqui é a defesa desta empresa de comunicação com
o pagamento de mensalidades nas universidades estatais, o que pode levar ao
definitivo desfecho do caráter público das instituições de ensino superior
mantidas pela sociedade brasileira. A terceira ideia, por seu turno, leva em
consideração um currículo escolar cada vez mais restrito, como se as demais
áreas do conhecimento fossem meros apêndices, além de a mesma estar coadunada
com a perspectiva duvidosa das avaliações internacionais em larga escala
(lógica dos ranqueamentos).
Em
síntese, se o fundo público para o setor educacional fosse, de fato, prioridade
de Estado, a perspectiva privatista não teria ganhado tanto terreno nestas
últimas duas décadas, especialmente com a reforma neoliberal iniciada na década
de 1990. Para a Folha de S. Paulo a
não entrega do fundo público para as organizações sociais representa tão
somente ‘preconceito ideológico’ e não a terceirização deliberada da
administração pública para o setor empresarial. Estamos, de fato, diante de
projetos educacionais em disputa, e o caráter público da Educação Básica e do
Ensino Superior correm riscos cada vez mais iminentes de serem extintos sob o
manto da racionalidade meritocrática!
Nenhum comentário:
Postar um comentário