O vetusto estado do
Vaticano, com suas ideias e práticas medievais, sinaliza o quanto esta
instituição está apartada de um mundo em colapso social, fruto de uma sociedade
tangida por diferentes classes. No silêncio acolhedor e suntuoso da basílica de
São Pedro, ecoam episódios da história que não podem ser esquecidos, embora
durante séculos a igreja conservadora tenha se utilizado da força, da tortura e
do preconceito para dizimar inimigos e detratores. Não podemos esquecer ainda
da conivência da igreja católica com o ditador fascista Benito Mussolini
durante a segunda guerra mundial (1939-1945), que por meio do Tratado de Latrão
(1929), formalizou a existência do estado do Vaticano, um estado neutro
politicamente e sob a autoridade do papa. Tal cumplicidade se estendeu ao apoio
explícito ao nazifascismo e, mesmo Joseph Ratzinger, pertenceu às hostes da
juventude hitlerista.
Durante mais de oito
séculos a igreja católica comandou uma verdadeira caçada aos intelectuais
laicos e às mulheres ditas ‘diferentes’, ou seja, que não se enquadravam em
seus preceitos ignorantes e revanchistas. Muitos e muitas, literalmente,
arderam nas fogueiras da Inquisição, sob a égide do ‘poder temporal’ dos papas.
Na América Latina da segunda metade do século XX, a teologia da libertação
procurou repensar a missão sacerdotal da igreja, em defesa dos oprimidos da
terra e da cidade, e se defrontou com as críticas ferozes da cúria romana. Tal
embate dividiu ainda mais suas hierarquias, e este divisionismo se fez sentir
na perda galopante de fiéis e de sua autoridade espiritual.
É esta mesma igreja
que condena as pesquisas em células-troco para salvar vidas e o uso de
contraceptivos nos países miseráveis da África, além de ser declaradamente
homofóbica. Nos termos do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), o
‘preconceito retroativo’ permanece transversalizando o pensamento conservador
da igreja católica, e isto significa dizer que esta instituição deste a
Contrarreforma no século XVI, esteve do lado das forças políticas opressoras e
escravistas. Logo, ao se tratar da renúncia de um papa, temos de remontar a
trajetória histórica desta instituição religiosa, o que denota uma análise
fincada em fontes, evidências e registros memorialísticos/orais, constituindo,
efetivamente, um quadro consistente de seu legado, sem anacronismos.
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