quarta-feira, 3 de agosto de 2011

EXEMPLO QUE VEM DO CHILE


 

O Chile foi o primeiro país da América Latina a implementar medidas neoliberais ainda na década de 1970 durante a ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006), que por meio de um golpe de Estado governou aquele país de forma extremamente brutal de 1973 a 1990. Amigo pessoal de Margaret Thatcher – então primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990 – e alcunhada de dama de ferro devido à sua postura política extremamente liberal e ao mesmo tempo autoritária e privatista, Pinochet conduziu o Estado chileno a uma dependência excessiva dos ‘humores’ do mercado. Áreas estratégicas como saúde e educação ficaram nas mãos da iniciativa privada e nos dias de hoje o Chile não chega a investir 2% de seu PIB em educação pública, o que tem gerado uma série de protestos pela juventude chilena, que tem dificuldades em obter o crédito educativo para se manter numa universidade.

Os efeitos do neoliberalismo se fizeram sentir num curto espaço de tempo. Se para a dama de ferro ‘não havia alternativa’ e a única saída era a salvaguarda do deus-mercado, a história nos mostra que a anulação da democracia e a tentativa de se destruir as identidades coletivas (sindicatos, movimentos sociais, fóruns, etc.) requer hoje em dia uma nova interpretação diante dos recentes acontecimentos que mobilizam as novas gerações sem perspectivas de empregabilidade. A ‘retórica do inevitável’ apregoada pelas políticas neoliberais ganhou com as manifestações estudantis no Chile um novo panorama em termos de aplicação dos recursos públicos pelo Estado. A bancarrota dos países ibéricos e da Grécia na Europa são também sintomas evidentes de como o capital especulativo e a ciranda financeira podem destruir os sonhos e as perspectivas das futuras gerações.

Mais do que ícones que possam surgir a partir das grandes manifestações estudantis no Chile, há aí uma demonstração muito vivaz de que é possível se construir ‘outras alternativas’ diante do fatalismo neoliberal. O presidente chileno Sebastián Piñera, que amarga apenas 30% de aprovação popular, terá de enfrentar a herança de Pinochet, o que não significa que fará grandes mudanças sociais já que representa os interesses da elite conservadora chilena. Por outro lado, o Chile é o ‘emergente grupal’ latino-americano – apenas para utilizar um termo psicanalítico – tendo em vista que suas mazelas denotam as rachaduras de um modelo econômico incapaz de comportar as demandas sociais. Há de se aprender com as lições chilenas!



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