quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A arte dos encontros




Por Jéferson Dantas


No turbilhão do mundo infoviário minha caixa eletrônica está repleta de spams, lembretes de responsabilidades acadêmicas, prazos para entrega de resenhas críticas e de textos definitivos para um congresso que será realizado no ano que vem. E, mesmo quando recebo um e-mail de um/a amigo/a, tudo não passa de um anexo com uma apresentação em Power Point. Certo dia, uma colega me confidenciou que não se permite mais entrar em contato com os amigos, pois acredita que tal atitude pode ser compreendida como ‘invasiva’. Já nem conseguimos mais atinar que a ‘invasão’ ocorre todos os dias em nossas casas, escritórios, escolas e ruas da cidade, através de sofisticados mecanismos eletrônicos de vigilância. O Big Brother se materializou na aposta trágica de Orwell.

As grandes rupturas sociais ocorreram nos momentos de elevada crise econômica e de instabilidade das instituições políticas. O gérmen de todo processo revolucionário sempre esteve permeado pela celebração à vida e às experiências elaboradas de trabalhadores e trabalhadoras de diferentes ofícios. A humanidade nos séculos 18 e 19, ainda que timidamente, começava a deixar para trás as indeléveis marcas do misticismo religioso, embora convivesse com as terríveis contradições do escravismo e os limites impostos pelas Monarquias Absolutistas. O racionalismo político e científico possibilitou novas rupturas neste estágio da humanidade. Entretanto, encontros secretos nas tabernas; nas casas de tecelões e artífices; na coletividade dos quilombos; na festividade do sincretismo religioso e nas rodas de batuques, apresentavam possibilidades de identificação social concreta, embora não necessariamente imediatas. O que significou/significa esta herança social para todos nós no século 21?

Ora, a ‘arte dos encontros’ é uma dinâmica coletiva que expressa o que desejamos e os níveis de partilha que asseguram nossa saúde física e psíquica. Todo isolamento é triste e sombrio, conduzindo-nos a um distanciamento do Eros criador e, portanto, a uma internalização parcial do fracasso individual. Perpetuar os encontros que subvertam a lógica asséptica da ‘acumulação flexível do capital’ é uma alternativa permanentemente válida em tempos de desencontros e de ‘amigos virtuais’.

3 comentários:

Bianca Melyna disse...

Adorei o novo lay, com a nova foto.

Grande abraço!

Mariana Fernandes Lixa disse...

Adorei seu blog, fiquei aqui um bom tempo navegando nos seus textos. Me permites te-lo nos meus links?

Unknown disse...

Eu também gostei da nova foto. E me senti particularmente provocada com essa sua postagem rs
Aqui em casa as coisas continuam duras, mas ainda há espaço para um "ensaio" viu?Não esqueço que me mantenho em dívida com vcs (tu e Jú)
Abs