sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A África revisitada




Jéferson Dantas



Segundo o geógrafo Rafael Sanzio Araújo dos Santos ainda não se fez o “suficiente, o necessário, o durável pela África. O mundo, a Europa, a América, tem grave responsabilidade nesse processo secular de falência”. Num continente onde 40 de seus 52 países estão entre os mais pobres do mundo, não há mais como vendar os olhos para a destruição permanente de um território historicamente explorado pelas grandes potências capitalistas. Uma exploração construída pela violência física e simbólica em relação às grandes civilizações africanas, escravismo mercantil e a ideologia xenófoba proveniente de várias partes da Europa.

O Brasil, sendo a segunda maior nação de ascendência africana do mundo, deve muito a esse continente. Afinal, foram os braços dos escravos africanos que construíram esse país nos últimos quatro séculos. E, assim como na África, os regimes colonial, imperial e republicano no Brasil não deram conta da inclusão da grande maioria dos afrodescendentes no processo produtivo nacional. Os afrodescendentes ainda não conseguiram estabelecer um processo de “empoderamento” que lhes dê a visibilidade merecida. Entre preconceitos e estereótipos que acompanham a triste e sinuosa história desses homens e mulheres separadas pelo Atlântico, há a permanência da ideologia eurocêntrica, mais apaziguadora do que comprometida com a situação de miserabilidade dos povos africanos.


Assim, para que a nação brasileira possa construir um projeto de inclusão, torna-se imprescindível reavaliar os descaminhos do processo educacional público brasileiro, pedagogicamente/historicamente autoritário e extremamente excludente. Além disso, é fundamental repensar a realidade cruel das comunidades periféricas de morros e encostas de várias cidades brasileiras, que apresentam como perfil étnico, em grande parte, homens e mulheres de descendência africana. O continente africano, assim como o Brasil, foi secularmente dilapidado. Na África, tragicamente, impera em grande medida regimes políticos frágeis e suscetíveis à corrupção endêmica. É esta a herança nefasta que queremos e projetamos para as gerações futuras brasileiras? Uma sociedade onde a impunidade, o racismo e o arrivismo são as faces da mesma moeda?




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