quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Projetos simplificados



Jéferson Dantas



Na reta final do segundo turno os dois candidatos à presidência da república brasileira ainda não manifestaram, claramente, seus projetos sociais. Acusações pessoais, maniqueísmo tosco, endemonização e tons desqualificatórios são destilados à revelia do eleitorado. Alckmin tem a seu favor os velhos caciques regionais, que não medirão esforços para convencer os eleitores indecisos no pleito de 29 de outubro. Lula ainda repousa na aura mítica que o levou ao poder em 2002, mas que não poderá se sustentar ad infinitum numa possível vitória no segundo turno.

Tanto Lula quanto Alckmin não farão grandes mudanças macroeconômicas. O comando tucano mexerá drasticamente no gerenciamento público – o chamado ‘choque de gestão, propalado por Alckmin -, já que sua agenda está intimamente associada ao reformismo neoliberal. Para o presidente Lula a reforma política passa a ser uma questão estratégica, o que poderá processar mudanças significativas na história do Partido dos Trabalhadores. Porém, uma coisa é certa: Alckmin e Lula não empolgam o eleitorado médio brasileiro. Há, inclusive, temores velados de que Lula, ganhando a eleição, terá enormes dificuldades para governar nos próximos quatro anos. Ou seja: rumores de golpismo no ar!

Os golpes contra a democracia acontecem, justamente, quando os mecanismos jurídicos existentes fracassam. Sempre há argumentações radicais e autoritárias reivindicando punições exemplares, exclusões, destituições e certo saudosismo auriverde. A polarização ideológica que se vê nesse momento histórico da política nacional revela ainda duas trajetórias distintas. Alckmin agrada em cheio as elites e parcela do eleitorado que aposta no ‘bom presidente’ que sabe representar o povo, isto é, o formato, a embalagem é mais importante que o conteúdo. Já Lula tem apoio dos mais pobres e para muitos ‘foi longe demais como presidente’. A endemonização de Lula por determinado segmento da imprensa não ajuda em nada a compreensão de seu significado político para o Brasil. Na longa e penosa consolidação democrática tupiniquim reinam os clichês envolvendo bandidos e mocinhos. Esquecem os polemistas de plantão que a nação brasileira é bem maior de que seus dilatados egos.

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