sábado, 16 de setembro de 2006

A escola dos meus sonhos




Jéferson Dantas


Na escola dos meus sonhos não há grades, nem sinal que lembre ambulâncias ou corpo de bombeiros; há, no entanto, um currículo integrado, educadores comprometidos politicamente, diretores eleitos pelo voto direto, espaços de inclusão lúdicos, pais participativos e estudantes entusiasmados com o processo de aprendizagem. Na escola dos meus sonhos todos são responsáveis pelos encaminhamentos pedagógicos. Há grupos operativos, com tarefas pré-definidas e avaliações permanentes. Sendo um lugar público, a escola dos meus sonhos se define e se identifica com ações públicas, e não com o poder estatal clientelista, alinhado ao favoritismo e ao nepotismo. A escola que povoa meus mais recônditos pensamentos entende a democracia como construção cotidiana, inacabada, imperfeita, porém, prenhe de possibilidades.

A realidade, entretanto, está permeada pelo embrutecimento e o desencanto. Dados do Ministério da Educação (MEC) revelam que o Brasil está com um déficit de educadores na Educação Básica em torno de 710 mil profissionais. Em médio prazo isso será o colapso da nação! Salários pouco atrativos, condições de trabalho desumanas, violência física e simbólica crescente no ambiente escolar, direções indicadas (cargos de confiança) e grades curriculares fragmentadas, são apenas alguns exemplos da desistência sistemática de educadores ingressantes no magistério. Um país que queira ser competitivo tecnologicamente e amadurecido, politicamente, tem de investir em educação de forma robusta, elegendo-a como a prioridade número “um” do país.

Nesta direção, a escola dos meus sonhos não é a utopia incerta, a idealização ad infinitum, as projeções que arrefecem ou vão para as calendas gregas. A escola dos meus sonhos é e sempre será possível, pois se configura como um dos poucos espaços públicos de construção do conhecimento e de exercício da democracia, da ética e da formação política. Desistir desse sonho é desistir da juventude, arremessando-a para a cultura da violência, desapego à vida e ao arrivismo sem fronteiras.

â Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor efetivo da rede municipal de ensino em São José/SC. Articulador do GTEC/FMMC (Grupo de Trabalho Estudos do Currículo do Fórum do Maciço do Morro da Cruz). E-mail: clioinsone@gmail.com

Um comentário:

Anderson Dantas disse...

Feci quod potui,
faciant meliora potentes

Já que estamos no latim, língua primeira.

É realmente terrível ter que ver, ouvir os rosnados da trupe Jabor, Geraldos e Irineus, com aquele discurso fascista, e ainda mais terrível saber que a literatura e as ações de resistência, vem perdendo terreno ... Muitos passos adiantes de poucos e dos mesmos, nos entristece.

Estou participando agora de um novo blog, no grupo Língua Epistolar.

Acesse-o e também o meu, tem grandes novidades e ótimos textos. Inclusive o Daniel Faria, também historiador, participa do Língua.

http://linguaepistolar.blogspot.com
http://albumzutico.blogspot.com

abraços fraternos e vulgares