segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Mídia e desqualificação do(a) educador(a)




Por Jéferson Dantas



Tem me causado muita surpresa a maneira como um grande grupo empresarial da mídia na região sul tem tratado a questão da educação em Santa Catarina. São matérias sistemáticas em periódicos impressos e também nos telejornais diurnos e noturnos que desqualificam os educadores catarinenses, invertendo a lógica de que a precarização da educação pública é, acima de tudo, uma questão estrutural e não simploriamente “culpa” de quem tem formado gerações inteiras de catarinenses.

Uma das últimas matérias publicadas por este importante grupo empresarial da mídia, apontou em “rápidas pinceladas” que os atestados médicos dos professores se ampliaram consideravelmente no mês de julho, denotando, aparentemente, que os professores estão se utilizando artificiosamente dos atestados para não trabalharem. Ou seja, as juntas médicas estão sendo coniventes, certamente (?). Nunca li neste periódico uma matéria consistente sobre as doenças psíquicas e físicas que os educadores sofrem nos ambientes escolares, muitos deles sucateados e impróprios para a prática pedagógica. Apenas para citar, a síndrome de burnout e o assédio moral são apenas algumas das situações corriqueiras em várias escolas catarinenses e do Brasil como um todo.

Já em seus telejornais, a empresa tem reservado espaços específicos para tratar da educação e os seus âncoras com olhares bravios exigem limites à indisciplina dos estudantes e atitudes enérgicas dos educadores. Num dos últimos programas que assisti, sugere-se sutilmente que o modelo privado de educação básica deve ser o mesmo seguido pelo modelo público, tendo em vista que os “resultados” são mais positivos, objetivos e direcionados (leia-se vestibular). Em outros termos, a relação mercantilista/trabalhista da educação acaba se tornando a mais adequada para se evitar as faltas freqüentes dos educadores e a disciplinarização de sua conduta no ambiente escolar.

Logo, faz-se importante a relativização do que tem sido publicado pela mídia no que se refere à educação catarinense, principalmente quando um determinado grupo empresarial se coloca como interlocutor privilegiado ou “arauto” das mazelas educacionais. Não se pode confundir a liberdade de imprensa com irresponsabilidade. Ao culpabilizar, nas entrelinhas, os educadores pela falência da educação, os empresários da mídia cometem uma grande violência simbólica contra aqueles(as) que estão, justamente, numa das pontas mais frágeis dessa problemática. Invés de culpar educadores e educadoras pelo fracasso escolar dos educandos, não seria mais honesto e responsável pesquisar profundamente o que está embutido no processo ensino-aprendizagem?

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