Texto de minha autoria publicado na Revista Eletrônica "Desafios da Educação". Para acessar o texto, basta clicar no link https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/educacao-liberdade-paulo-freire/.
Blog do Jéferson Dantas©
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
A PARVOÍCE COMO MÉTODO
N
No recente livro do jornalista britânico, Matthew D’Ancona,
discute-se os efeitos nefastos da pós-verdade
e o que isso pode implicar em termos anticivilizatórios em países periféricos
do capital, com baixíssima escolarização básica e extrema desigualdade social,
como é o caso do Brasil. D’Ancona procura investigar o ‘valor declinante da
verdade’ e a difusão perniciosa do relativismo ‘disfarçado de ceticismo
legítimo’. Isso tem ocasionado a circulação em larga escala de falsificações ou
manipulações grosseiras de acontecimentos históricos, a pseudociência médica e
a ideia grotesca da ‘ciência como conspiração’ em vez de um ‘campo de
investigação capaz de mudar o mundo’, nos termos de D’Ancona.
A difusão desonesta das fake
news ou daquilo que se convencionou chamar de pós-verdade coloca em xeque a racionalidade, sendo substituída pela
emoção, onde as disputas políticas já não são mais necessárias e a ciência é
tratada com suspeita e/ou total desprezo. A ‘resignação cognitiva’ retira de
cena a ponderação racional dando lugar à convicção arraigada, como foi o caso
da operação lava-jato no Brasil que, a esta altura, já deveria estar totalmente
desacreditada pela opinião pública. Stephen Bannon na condição de
estrategista-chefe de Donald Trump, apoiado por supremacistas brancos,
compartilham a noção de que a ‘verdade é aquilo que você entende dela’, ou
entre outras palavras, a doxa está
acima da episteme!
Em tal conjuntura em que personalidades populistas autoritárias
assumiram o poder executivo em várias partes do mundo é de se supor que o
jornalismo teria como objetivo ‘revelar a complexidade e o paradoxo da vida pública
e – o mais importante de tudo – regar as raízes da democracia com um
fornecimento constante de notícias confiáveis’. Contudo, a mídia, sobretudo a
tradicional hegemônica, vem perdendo cada vez mais credibilidade (vide a sua
conivência com o golpe de 2016 em nosso país). Os populistas autoritários
procuram simplificar tudo, descontextualizando questões complexas para que as
mesmas fiquem, deliberadamente, sem respostas.
Em síntese, D’ancona reconhece que as ideias pós-modernas foram
importantes alavancas para a instauração da era da pós-verdade, tendo em vista
que o ‘pós-modernismo foi e é uma campanha teórica que apelou à esquerda
desiludida, ansiando decifrar um século em que as antigas certezas da vanguarda
marxista [aparentemente] tinham se esfarelado diante dela. Muitas vezes
incompreensível em sua terminologia e inquietação intelectual seus
protagonistas principais se esforçaram para encontrar uma nova política de
emancipação social em meio aos escombros’. Os pós-modernos forneceram a
artilharia ‘teórica’(?) necessária que deu prestígio aos cínicos elegantes,
tornando-se uma mera ferrugem sobre o
metal da verdade, conforme expressão utilizada por D’Ancona.
São tempos em que a indiferença é o maior desafio para aqueles que
defendem a verdade. É uma longa batalha. O terreno foi até agora fértil para os
populistas autoritários. A desigualdade social, a falta de moradias, educação e
saúde públicas precarizadas, ausência de trabalho formal, não podem ser
enfrentadas com discursos pífios ou provocações rasteiras pelas redes sociais. O maior ardil empregado pelos perversos autoritários que governam países
como o Brasil é de que é possível resolver questões complexas com respostas
simplificadoras. Nas periferias brasileiras a pobreza é combatida por meio de o
extermínio dos pobres; a educação pública e seus professores são igualmente
desqualificados e combatidos como ‘doutrinadores ideológicos’. Há de se dar
limite à sanha de um governo que ataca a população mais vulnerável,
socialmente. A prática do extermínio dos pobres é uma das faces fascistizantes
do governo que aí está, com a conivência de muitos e muitas que,
contraditoriamente, também são afetados diretamente por tais práticas. A razão
necessita dar balizas à emotividade parva que assola este país!
sexta-feira, 26 de julho de 2019
SOBRE A TIRANIA: REFLEXÕES SOBRE O TEMPO PRESENTE
REFERÊNCIA: SNYDER,
Timothy. Sobre a Tirania: vinte
lições do século XX para o presente. São Paulo: Cia das Letras, 2017, 168 p.
O
historiador estadunidense Timothy Snyder redigiu a obra Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente, tendo
como leitmotiv os desdobramentos das
últimas eleições nos EUA, em que o republicano Donald Trump foi vencedor. Suas
breves lições, num formato que se assemelha ao dos livros de autoajuda, podem
muito bem servir de referência para o Brasil, onde a democracia foi jugulada e
as instituições que deveriam zelar pela justiça social foram completamente
partidarizadas. O lawfare – o uso
indevido dos recursos jurídicos para fins de perseguição política – vem se
tornando estrutural em nosso país desde o golpe midiático-jurídico-parlamentar
de 2016.
Snyder
chama a atenção para as bases do conhecimento histórico, considerando que a
História pode não se repetir, mas ela ensina. Assim, já em sua primeira lição aponta que não se deve
obedecer por antecipação, pois isso representaria uma verdadeira tragédia
política, tendo em vista que a servidão voluntária alimentou regimes
totalitários como o fascismo e o nazismo na Itália e na Alemanha,
respectivamente. Vinculada a esta reflexão traz à baila as obras distópicas de
Ray Bradbury (1920-2012) e George Orwell (1903-1950) para asseverar que um dos
projetos dos regimes totalitários ou tirânicos é repetir ad nauseam as mesmas palavras e frases que aparecem nos meios de
comunicação diários, para que sejam aceitas em detrimento de um quadro
referencial maior. Em outras palavras, “ignorar o mundo real dá início à
criação de um antimundo ficcional” (SNYDER, 2017, p. 64). Como exemplos dessa
assertiva, os memes, a autoverdade, a
auto-referência e uma campanha eleitoral subterrânea construída por meio das fake news nas redes sociais, foram a
tônica do processo eleitoral no Brasil em 2018.
Além
disso, recomenda que as pessoas se encontrem mais presencialmente e reforcem os
laços de coletividade ou coleguismo enfraquecidos pelas redes sociais. Afirma
também que, diante das ameaças às conquistas sociais,
[...]
duas fronteiras sejam cruzadas. Primeiro, as ideias a respeito de mudança têm
de envolver pessoas com vários históricos e que não concordem em tudo. Segundo,
as pessoas precisam se encontrar em lugares que não são seus lares e com gente
que antes não fazia parte de seu grupo de amigos. Um protesto pode ser
organizado por meio de redes sociais, porém nada é real se não acabar nas ruas.
Se os tiranos não percebem consequência alguma para seus atos no mundo tridimensional,
nada vai mudar (SNYDER, 2017, p. 81).
Snyder
nos convida a combater a política da
inevitabilidade, que impõe à humanidade a inércia e o desconhecimento da
História, assim como o combate à política
da eternidade, calcada em reducionismos e maniqueísmos políticos; sua
aposta reside nas novas gerações, entendendo que os sujeitos históricos
posicionados em favor da emancipação humana têm muita responsabilidade nestes
tempos de desconfiança, anestesiamento e apatia generalizadas.
Como
profundo conhecedor da história do holocausto, Snyder alerta-nos de que a
[...]
história tem o poder de familiarizar e também de advertir. (...). No começo do
século XX, tal como no começo do XXI, essas esperanças foram ameaçadas por
novas visões políticas de massa em que um líder ou um partido afirmavam
representar diretamente a vontade do povo. As democracias europeias descambaram
para o autoritarismo de direita ou para o fascismo nas décadas de 1920 e 1930.
(...). A história europeia do século XX nos mostra que as sociedades podem
ruir, que as democracias podem ruir, que as democracias podem entrar em
colapso, que a ética pode ser aniquilada e que os homens comuns podem se ver
diante de valas comuns com armas nas mãos (SNYDER, 2017, p. 13).
Os
falsos mitos podem ser construídos em contextos assim, ou seja, aparentemente
inspiram vontades populares, como o combate à violência, à corrupção, à
delinquência juvenil, etc.. Todavia, os germens da tirania defendidos por esses
sujeitos afeitos a um instinto primitivo apenas conseguem trazer à tona
recalques e valores morais duvidosos.
O mais surpreendente disso, conforme estudos
teóricos de Snyder, é que as pessoas são receptivas às novas regras num
ambiente ‘novo’; mais surpreendente ainda: mostram-se capazes de maltratar e
matar outros indivíduos a serviço de algum propósito considerado ‘novo’, se o
mesmo for instituído e balizado por uma determinada autoridade pretensamente
legítima.
Logo,
apoiando-nos nos estudos de Snyder, tudo corrobora para que esse governo de viés
autoritário/ultraconservador no Brasil ofereça carta branca para os aparelhos
ou agências de repressão para executarem todas as formas de tirania possíveis,
tendo como alvos característicos os que sempre estiveram mais vulneráveis,
socialmente (pobres, negros, mulheres, comunidade LGBTQ+).
Ao redigir
uma pequena obra sem grandes pretensões teóricas, Snyder contribui de forma
didática e professoral para a compreensão dos descaminhos dos governos
sintonizados com grupos religiosos (neopentecostais, sobretudo), milicianos,
latifundiários do agronegócio e toda ordem ou séquito de homens e mulheres ‘de
bem’ que ao se tornarem servos voluntários do combate ao comunismo e aos
pretensos professores doutrinadores marxistas nas escolas públicas, esteiam
valores morais densamente preconceituosos, insanos e estereotipados.
segunda-feira, 22 de julho de 2019
O PODER DAS MILÍCIAS NUM PAÍS DESIGUAL
A criminalização
dos movimentos sociais e o ‘combate ao socialismo’ (?!) são temas recorrentes
no recente governo do capitão reformado. Para os incautos ou para os que,
deliberadamente, agem de má-fé, repressão é sinônimo de segurança pública; ou
ainda: o saudosismo verde-oliva da ditadura militar (1964-1985) teria gerado em
mentes insanas a ideia de que havia um país livre da corrupção e dos desmandos,
ainda que os dados históricos nos demonstrem como os índices sociais,
educacionais e econômicos foram dramáticos durante e ao fim da ditadura.
Não há nada que
nos alente em relação ao combate à corrupção, muito menos no que tange às
políticas públicas de inclusão social no Brasil dos bolsominions. A violência indiscriminada em relação às mulheres,
aos negros, aos povos originários e à comunidade LGBTQI+ vêm crescendo de
maneira assustadora no Brasil. Até o momento nada se revelou de forma efetiva
sobre os assassinos de Marielle Franco, embora se saiba que a ordem para
matá-la tenha partido das milícias que dominam o estado do Rio de Janeiro e,
especialmente, os territórios de sua capital. Para Snyder, “para que a
violência transforme não só o clima político como também o sistema, as emoções
dos comícios e a ideologia de exclusão precisam ser incorporadas ao treinamento
de guardas armados. Esses guardas primeiro desafiam a polícia e as Forças
Armadas, depois se infiltram nessas organizações e por fim as transformam”.
Eis a síntese:
milícias acabam tendo mais poder de ação do que as forças de segurança pública,
ou ainda, a conivência entre milícias, polícias militar e civil e forças armadas
podem ser tão nefastas que os desaparecimentos e assassinatos de lideranças
campesinas e sindicais vão se tornando algo naturalizado. O circuito do golpe
se adensaria aí.
SOBRE ASSUMIR RESPONSABILIDADES
Símbolos são
formas de nos comunicarmos com o mundo. Portanto, símbolos conectados ao
discurso do ódio não devem ser encarados como algo ‘comum’ e ‘natural’. Se o
sujeito defende o uso indiscriminado de armas; se entende que o fato de ter
concebido uma filha foi uma ‘fraquejada’, já que a mulher é compreendida como
um ser inferior, por que determinadas pessoas mantém adesivos nos automóveis ou
continuam usando camisetas estampando a figura de um sujeito que representa
todos os retrocessos possíveis? Precisamos ser coniventes, sociáveis ou amáveis
com pessoas que, deliberadamente, destilam ódio e preconceito ou,
sub-repticiamente, procuram levar vantagens sobre os outros, escudados por meio
de suas escolhas ultraconservadoras?
Snyder afirma que
a “vida é política, não porque o mundo se importa com como você se sente, mas
porque o mundo reage ao que você faz”. Além disso, adverte – tendo como
contexto histórico o nazifascismo na Europa das décadas de 1930 e 1940 – de que
“à medida que as propriedades foram recebendo marcas étnicas, a inveja transformou
a ética dos cidadãos. Se as lojas podiam ser ‘judias’, o que dizer de outras
empresas e propriedades? O desejo de que os judeus desaparecessem, talvez num
primeiro momento reprimido, foi crescendo à medida que a cobiça fermentava”.
Num exercício ou
exame comparativo, podemos afirmar que os/as que defendem concepções
autoritárias ou ultraconservadoras e que sempre estiveram ao nosso redor, mas
que não se sentiam à vontade para expressarem as suas ideias, agora se espalham
livremente, desejosos de que as liberdades individuais ou ideias à esquerda
sejam, literalmente, varridas do mapa! Já não podem ser encarados como ‘bobos
da corte’ ou ‘falastrões ignaros’, pois não terão receio de se adonarem de
propriedades alheias e até mesmo de ideias alheias, já que são incapazes de
elaborarem pensamentos próprios com alguma consistência teórica. São, portanto,
nocivos esses sujeitos recalcados, não mais pelo que professavam ou
vociferavam, mas pelo que são capazes de fazerem com ações maquinais
sistemáticas à revelia dos que defendem princípios éticos em todas as esferas
da vida pública. Não se trata mais de simbologias inofensivas, mas de
provocações deliberadas e uma disputa que prescinde o pensamento, já que o que,
realmente importa, são as vantagens possíveis por meio de narrativas únicas,
sem desdobramentos e discernimentos satisfatórios. Em síntese, trata-se da
morte do pensamento e da estratégia da desqualificação como símbolos imanentes
de sujeitos que, temporariamente, acreditam ditar as regras da vida pública.
quinta-feira, 23 de maio de 2019
A EDUCAÇÃO É UM DIREITO!
A educação
pública é um direito inalienável, portanto, não pode ser compreendida como uma
mercadoria, além de ser um bem comum. Em outras palavras, a educação em seus
diferentes níveis e modalidades de ensino representa a mais valiosa herança
civilizatória de uma nação. São pelas instituições públicas que gerações
inteiras se apropriam do conhecimento científico de forma sistematizada, onde
escolas e instituições de ensino superior por meio de seus professores e corpo
técnico/pedagógico se responsabilizam por processos formativos discutidos
permanentemente. Daí se supor que uma nação que prescinde de educação e de seus
professores comete um grave crime de lesa-pátria!
Embora
todo o empenho e energia bolsonaristas venham demonstrando por meio de ações
práticas (cortes orçamentários nas instituições federais de ensino superior,
desqualificação social do magistério e imprudentes agressões à juventude
escolarizada) que a educação pública é desnecessária, sabe-se que o
desenvolvimento social de um país, fatalmente, passa pelas creches, escolas de
educação básica, cursos técnicos profissionalizantes e universidades. Os
recursos investidos – que não podem ser confundidos com ‘gastos’ públicos – em
ensino, pesquisa e extensão transformam de maneira qualificada a vida de
milhões de pessoas, notadamente crianças e jovens. Defender o direito à
educação, portanto, é um princípio basilar da res publica!
Cada vez
que a educação pública é atrozmente atacada quem sofre as consequências é a
população brasileira, sobretudo aquela das camadas mais empobrecidas do tecido
social. Logo, o anti-intelectualismo e a ignorância levadas às últimas
consequências corroboram tão somente para uma imagem invertida do que seria um
país efetivamente soberano. O representante do Poder Executivo não só pesa a
mão com declarações desastrosas como demonstra de maneira límpida que não está
à altura do cargo que ocupa!
terça-feira, 7 de maio de 2019
O PERVERSO E A MÍDIA BURGUESA SUBMISSA
Os recuos da teoria e da política nesse governo de abutres, biltres, néscios, safardanas e mentecaptos ganharam o seu ponto de inflexão com a gravíssima redução orçamentária destinada às instituições públicas de ensino, especialmente das federais. Com argumentos risíveis e sem qualquer fundamentação que valha, a tropa bolsonarista e o lema do nacional-entreguismo testam a paciência de uma população ainda inerme, mas que começa a entender o que e a quem o capitão reformado do exército presta juramento e obediência tácitas: o grande capital privado.
A mídia burguesa tradicional, por seu turno, que esteve pari passu na formulação do golpe jurídico-parlamentar de 2016, naturaliza os descalabros e as infelizes declarações de um sujeito que jamais será respeitado nacional e internacionalmente como estadista. Os 'napoleões de hospício' que circulam pelos gabinetes ministeriais testam a sanidade dos/as que ficam estupefatos/as com tamanha estupidez sobre qualquer temário.
As forças em luta começam a despontar. Sem ilusão, sabemos do que o aparato repressor estatal é capaz. Afinal, o que significa do ponto de vista histórico a metralha de 80 balas disparadas contra uma família negra num país que se mostra, diuturnamente, tão desigual, racista, misógino e recalcado?
A mídia burguesa que se acovarda e que se esconde em pautas que não interessam à população, também precisam ser responsabilizadas! Como os grupos empresariais jornalísticos são favoráveis à contrarreforma da previdência, seus silêncios são provas de uma conduta contra a classe trabalhadora, ainda que no plano da aparência se mostrem sensibilizados com pautas de políticas de identidade.
Para os/as trabalhadores/as o que importa em tal contexto é a unificação de todas as lutas. Sem dispersões e casuísmos, que só beneficiam a choldra tuiteira! O capital vive de crises cíclicas; logo, essa conta da contrarreforma previdenciária e de todos os ataques sistemáticos aos serviços públicos só agudizam e desmontam o que gerações inteiras demoraram para construir em benefício do povo brasileiro.
segunda-feira, 18 de março de 2019
A BARBÁRIE NOSSA DE CADA DIA
Quem consegue
manter a sanidade num país em que tantos crimes contra a dignidade humana e
acidentes evitáveis (que não podem ser considerados tragédias) são fomentados
dia após dia pelo discurso do ódio, inclusive e, deliberadamente, por aqueles e
aquelas que deveriam zelar pela justiça social? Retrocedemos muitíssimo nesses
últimos anos. O desprezo pela pesquisa, pelas evidências históricas e pela
memória social deu lugar à mentira contumaz; os mitômanos se refestelam e se
encastelam em mundos paralelos ou fictícios por meio de aparelhos portáteis de
mídia. Ora, nada é real se não tiver sentido ontológico!
O que o país tem
assistido, literalmente, todos os dias – de maneira passiva em grande medida –,
é o desmonte dos serviços públicos, da previdência social solidária e
geracional; das universidades federais públicas, agora massacradas e impelidas
à própria sorte pelo recente decreto nº 9.725, publicado em 12 de março de 2019
no Diário Oficial da União. Não há ‘desastre’ ou ‘tragédia’ sem autoria. Não se
pode naturalizar o massacre de crianças e jovens em escolas públicas como um
‘ato isolado’ ou mesmo desastres ambientais como a de Brumadinho. A facilidade
em ter armas de fogo pelo cidadão comum amplia a insegurança da sociedade; o
ódio como estratégia política autoriza a violência contra as mulheres
(feminicídio), contra a comunidade LGBTQ e contra os pobres, negros e todos os desprotegidos,
socialmente. A diminuição da maioridade penal, que também está no horizonte das
políticas públicas ultraconservadoras, é uma afronta ao Estatuto da Criança e
do Adolescente.
Se havia algum
resquício de Estado de Bem-Estar Social, isso não existe mais no país. A lógica
do ‘empreender-se a si mesmo’, que lança os trabalhadores ao deus-dará, já vem
criando uma imensa massa de desempregados e desalentados. A farsa meritocrática
não se sustenta quando as desigualdades sociais reprisam desigualdades
escolares, portanto, nem todos têm as mesmas oportunidades de empregabilidade.
A violência e a miséria em larga escala tendem a crescer de maneira
exponencial. E isso não pode ser encarado como coincidência, golpe do destino
ou vontade divina!
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