Símbolos são
formas de nos comunicarmos com o mundo. Portanto, símbolos conectados ao
discurso do ódio não devem ser encarados como algo ‘comum’ e ‘natural’. Se o
sujeito defende o uso indiscriminado de armas; se entende que o fato de ter
concebido uma filha foi uma ‘fraquejada’, já que a mulher é compreendida como
um ser inferior, por que determinadas pessoas mantém adesivos nos automóveis ou
continuam usando camisetas estampando a figura de um sujeito que representa
todos os retrocessos possíveis? Precisamos ser coniventes, sociáveis ou amáveis
com pessoas que, deliberadamente, destilam ódio e preconceito ou,
sub-repticiamente, procuram levar vantagens sobre os outros, escudados por meio
de suas escolhas ultraconservadoras?
Snyder afirma que
a “vida é política, não porque o mundo se importa com como você se sente, mas
porque o mundo reage ao que você faz”. Além disso, adverte – tendo como
contexto histórico o nazifascismo na Europa das décadas de 1930 e 1940 – de que
“à medida que as propriedades foram recebendo marcas étnicas, a inveja transformou
a ética dos cidadãos. Se as lojas podiam ser ‘judias’, o que dizer de outras
empresas e propriedades? O desejo de que os judeus desaparecessem, talvez num
primeiro momento reprimido, foi crescendo à medida que a cobiça fermentava”.
Num exercício ou
exame comparativo, podemos afirmar que os/as que defendem concepções
autoritárias ou ultraconservadoras e que sempre estiveram ao nosso redor, mas
que não se sentiam à vontade para expressarem as suas ideias, agora se espalham
livremente, desejosos de que as liberdades individuais ou ideias à esquerda
sejam, literalmente, varridas do mapa! Já não podem ser encarados como ‘bobos
da corte’ ou ‘falastrões ignaros’, pois não terão receio de se adonarem de
propriedades alheias e até mesmo de ideias alheias, já que são incapazes de
elaborarem pensamentos próprios com alguma consistência teórica. São, portanto,
nocivos esses sujeitos recalcados, não mais pelo que professavam ou
vociferavam, mas pelo que são capazes de fazerem com ações maquinais
sistemáticas à revelia dos que defendem princípios éticos em todas as esferas
da vida pública. Não se trata mais de simbologias inofensivas, mas de
provocações deliberadas e uma disputa que prescinde o pensamento, já que o que,
realmente importa, são as vantagens possíveis por meio de narrativas únicas,
sem desdobramentos e discernimentos satisfatórios. Em síntese, trata-se da
morte do pensamento e da estratégia da desqualificação como símbolos imanentes
de sujeitos que, temporariamente, acreditam ditar as regras da vida pública.
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