Quem consegue
manter a sanidade num país em que tantos crimes contra a dignidade humana e
acidentes evitáveis (que não podem ser considerados tragédias) são fomentados
dia após dia pelo discurso do ódio, inclusive e, deliberadamente, por aqueles e
aquelas que deveriam zelar pela justiça social? Retrocedemos muitíssimo nesses
últimos anos. O desprezo pela pesquisa, pelas evidências históricas e pela
memória social deu lugar à mentira contumaz; os mitômanos se refestelam e se
encastelam em mundos paralelos ou fictícios por meio de aparelhos portáteis de
mídia. Ora, nada é real se não tiver sentido ontológico!
O que o país tem
assistido, literalmente, todos os dias – de maneira passiva em grande medida –,
é o desmonte dos serviços públicos, da previdência social solidária e
geracional; das universidades federais públicas, agora massacradas e impelidas
à própria sorte pelo recente decreto nº 9.725, publicado em 12 de março de 2019
no Diário Oficial da União. Não há ‘desastre’ ou ‘tragédia’ sem autoria. Não se
pode naturalizar o massacre de crianças e jovens em escolas públicas como um
‘ato isolado’ ou mesmo desastres ambientais como a de Brumadinho. A facilidade
em ter armas de fogo pelo cidadão comum amplia a insegurança da sociedade; o
ódio como estratégia política autoriza a violência contra as mulheres
(feminicídio), contra a comunidade LGBTQ e contra os pobres, negros e todos os desprotegidos,
socialmente. A diminuição da maioridade penal, que também está no horizonte das
políticas públicas ultraconservadoras, é uma afronta ao Estatuto da Criança e
do Adolescente.
Se havia algum
resquício de Estado de Bem-Estar Social, isso não existe mais no país. A lógica
do ‘empreender-se a si mesmo’, que lança os trabalhadores ao deus-dará, já vem
criando uma imensa massa de desempregados e desalentados. A farsa meritocrática
não se sustenta quando as desigualdades sociais reprisam desigualdades
escolares, portanto, nem todos têm as mesmas oportunidades de empregabilidade.
A violência e a miséria em larga escala tendem a crescer de maneira
exponencial. E isso não pode ser encarado como coincidência, golpe do destino
ou vontade divina!