Durante
muito tempo os livros didáticos de História trouxeram em suas numerosas páginas
textos e iconografias que deixavam muito claro quem eram os ‘vencedores’ e quem
eram os ‘vencidos’. Em outras palavras, as narrativas históricas tradicionais
presentes nos manuais didáticos, sobretudo, nas décadas de 1970 e 1980,
apresentavam os fenômenos históricos como meras conjecturas mecânicas –
dissociando a luta entre opressores e oprimidos –, carregados de factualismos e
ufanismos, elementos típicos do contexto histórico vivenciado na América
Latina, ou seja, os regimes militares de exceção.
Com a
redemocratização do Brasil na metade da década de 1980, os livros didáticos de
História sofreram várias mudanças em suas abordagens teórico-metodológicas,
incorporando em suas discussões os novos objetos de estudo provenientes das
pesquisas nas universidades públicas, refletindo-se em investigações sobre a
luta de classes, gênero e as relações étnico-raciais. Pautava-se agora a
dimensão dialética da História, ou seja, de que os fenômenos sociais não são
dados a priori e de que a luta entre opressores e oprimidos, ou entre
trabalhadores e proprietários, representam a força motriz de uma sociedade de
classes.
Desconhecer
ou ignorar o conhecimento histórico é uma forma objetiva/sistemática de
obscurecer ou ocultar aquilo que gerações de historiadores têm se empenhado em
trazer à tona, por meio de novas fontes e/ou evidências históricas. Muitos
documentos do período ditatorial no Brasil ainda precisam ser desvendados, por
exemplo. Quando se busca investir contra as ciências humanas, objetivando a
construção de uma racionalidade meramente racista ou sexista, ou ainda, de uma
racionalidade patriótica/meritocrática desvinculada das demandas e
complexidades do mundo do trabalho, temos aí uma falaciosa melopeia que joga na
lata do lixo, sem nenhuma discussão, o esforço dos cientistas sociais em
compreender os rumos de uma sociedade como a brasileira. Maniqueísmos de
ocasião esgrimadas por oportunistas políticos que não admitem perder qualquer
privilégio, reforçam a velha e fustigada ideia de que os oprimidos necessitam
ser contidos e vivenciar a ressaca de seus dissabores. Até quando?