sexta-feira, 31 de maio de 2013

A princesa, a abolição e a canonização



Durante bom tempo as escolas brasileiras comemoravam o dia 13 de maio como marco simbólico da ‘libertação’ dos escravizados, ocorrido na última aurora do regime monárquico em 1888. Convém recordar que o Brasil foi o último país da América a extinguir o modo de produção escravista. Leis abolicionistas criadas após a funesta Guerra do Paraguai (1864-1870) foram paliativas para uma situação social e política já insustentável, enfraquecendo o poder de Dom Pedro II. Assim, a abolição da escravidão era uma ‘questão de tempo’, já que a sua manutenção contava apenas com o apoio de cafeicultores falidos, tendo em vista que a cafeicultura paulista se assentava agora na exploração da força de trabalho livre, imigrante e assalariada.
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Princesa Isabel
Em tal contexto histórico, muitos de nós fomos educados na escola de que a princesa Isabel, filha de D. Pedro II, foi uma heroína nacional por ter sancionado a Lei Áurea em 13 de maio de 1888. A historiadora Mary Del Priore em sua mais recente pesquisa (O castelo de papel) desmitifica o ato heroico da princesa, por meio de exaustivo estudo nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e também no museu imperial de Petrópolis/RJ. Segundo Del Priore, a princesa Isabel era alheia às questões sociais e não tinha qualquer vínculo com a causa abolicionista. Além disso, tratava suas ‘mucamas’ com termos pejorativos e era indiferente às doenças dos escravizados que lhes serviam, especialmente de um escravizado idoso e tuberculoso, que teve de recorrer, diretamente, ao imperador, para obter a sua carta de alforria. Isabel não tinha vocação política e nem preocupação com os rumos sociais do país, muito menos pelos temas considerados ‘nacionais’; de acordo com a análise de Del Priore, a herdeira do trono imperial encarava as questões políticas como algo ‘maçante’ e ‘entediante’.
A princesa Isabel recebeu inúmeras homenagens temáticas de escolas de samba no Rio de Janeiro, inclusive há uma escola que lhe presta tributo direto: a Vila Isabel. Há também a possibilidade de que a princesa seja canonizada pela Santa Sé, o que corresponde ao primeiro passo para se tornar ‘santa’.  No atual momento histórico, onde se discute o fortalecimento dos movimentos negros no Brasil e a implementação das ações afirmativas em diferentes setores sociais, penso que não apenas os historiadores, mas todos os educadores dos diferentes níveis de ensino precisam atentar em relação à heroicização de determinados sujeitos históricos, sob pena de compatibilizar um conhecimento histórico visto sob o olhar das elites, o que continua sendo um desafio nos diferentes processos de escolarização, especialmente na educação básica.







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