Os conquistadores europeus
pilharam as riquezas naturais do continente americano e escravizaram os povos
nativos que aqui residiam; impuseram-lhes novas identidades e cometeram
verdadeiros genocídios culturais em nome de uma fé monoteísta. Os saqueadores
se refestelaram em solo europeu, receberam títulos nobiliárquicos e depois
descobriram o lucrativo negócio do tráfico negreiro, assassinando seres humanos
nos porões das embarcações insalubres, submetendo-os a um trabalho cruel para
beneficiar a gulodice das monarquias divinas.
Cinco séculos depois o processo
colonizatório permanece no estatuto curricular das escolas brasileiras,
influenciadas pela importação de teorias educacionais provenientes da França, Espanha
e Portugal, além dos Estados Unidos da América. No âmago dos litígios que
envolvem as teorias do currículo, almeja-se uma proposição pedagógica
pós-colonial, que reconheça a materialidade dos processos históricos e
reconduza cada nação para os seus enfrentamentos educativos específicos. A
colonização pedagógica esteve presente, por exemplo, durante a ditadura militar
(1964-1985), nos famosos acordos entre o MEC e a USAID (United States Agency for International Development), esta última uma agência
estadunidense que não só estabeleceu programas de formação docente, como
instituiu roteiros programáticos na elaboração de materiais didáticos.
Nenhuma
condução pedagógica será suficientemente consequente enquanto não tiver
compromisso histórico com o seu passado e com o seu devir. As escolas públicas
brasileiras padecem de brio revolucionário, já que se organizam via de regra
como espaços da apatia política, onde os seus sujeitos partícipes pouco
discutem um projeto educativo, tomados que estão pela intensificação da jornada
de trabalho (no caso dos professores) e pela frágil interatividade entre a
comunidade escolar e a comunidade local atendida.
Ao
clamar-se por uma ‘pedagogia da indignação’ opta-se claramente por uma
perspectiva curricular que assinale o conflito e o compromisso como elos
permanentes das mudanças nas práticas pedagógicas. O conflito deve ser
compreendido aqui não como impossibilidade, mas como a chave mestra do
aniquilamento de consensos burocráticos e oficialescos perpetrados pelo Estado
Liberal. As contradições intrínsecas pertinentes às escolas representam dados
salutares na composição de um desenho curricular que não seja mais refém do
genérico e do arrazoado teórico identificados com o eurocentrismo.
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